Palavras Transgénicas

Porque as palavras são o que o Homem quiser

Tuesday, November 21, 2006

Teia II

Luzes laranjas
Escurecem as ruas
O tempo pára
As pedras murmuram

A chuva embacia os vidros
Os cavalos escorregam na humidade
Os sons que não chegam das esquinas
A lua coberta por uma núvem

Há desejos no ar
O frio arrefece as almas
A menina vende os fósforos
E o vagabundo implora a vida

A carruagem pára
Os vestidos compridos arrastam-se
Limpam as pedras da calçada
Transformam a dor em riso

O relógio dá as horas
O tempo volta a correr
Passam os cavalos
Chegam os sons
Chora a menina
Morre o vagabundo
Fingem os vestidos.

Monday, November 20, 2006

Vejo Cinzento

Vejo cinzento
Uma vida a preto e branco
Um filme antigo sem sujeitos
Um microfone perdido
Uma dobragem sem sentido

Vejo cinzento
Um carro que passa
O fumo de uma chaminé
Uma folha arrancada de um jornal
A chuva que cai para nos molhar

Vejo cinzento
Um cargueiro a partir
Uma bandeira perdida
Uma trovoada abafada
Um país à deriva.

TEIA

As coisas que disseste
E os gestos que fizeste
Enganaste-me sempre a sorrir
Foi um mundo que criei
E um monstro que não vi
Eu senti o chão tremer
Quando percebi a teia em que me envolvi
Mas o teu veneno jaz em mim
Agarraste-me e eu deixei
Renegaste-me e eu como que morri

Essas tuas intenções
São cruéis, é tentação
Os teus lábios entontecem
E o chão foge de mim
Dás-me a mão, eu quero o braço
Dizes sim eu digo não
Aproximas eu afasto
Mas a teia está aqui
Este jogo está perdido
Não consigo parar de fugir

Hoje as núvens trazem chuva
Vão lavar a minha alma
Vão romper a tua teia
E sugar o teu veneno
E o sol brilhará
Vou dançar até cair
Bater palmas e subir
E então vais querer o braço
E eu só te dou a mão
Vais cair e vais sentir
Esta teia que eu teci.